sexta-feira, 8 de junho de 2012

Artigo 3#


Notas sobre a fase de apuramento asiática para o mundial.

Está já na fase mais avançada o apuramento para o Mundial 2014 na zona da Confederação Asiática e, decorridas duas jornadas, é-nos já possível começar a tirar alguns apontamentos sobre as equipas que aspiram a estar no Brasil.

Há dois grupos de cinco equipas, em cada um dos quais se apuram diretamente os dois primeiros classificados (os terceiros de cada grupo disputam um play-off entre si em que o vencedor discutirá mais uma vaga com o 5º classificado da zona sul-americana).

O Grupo B é o mais mediático, e onde desde já se antevê para próxima terça-feira um encontro de gigantes. Apesar de ser o terceiro país asiático com melhor posição no ranking da FIFA, o Japão é provavelmente a equipa mais forte em toda a qualificação.

Na primeira jornada venceram Omã por 3-0, num jogo em que não permitiram um único remate à seleção de Omã, e, já hoje, destroçaram a Jordânia por 6-0. Cheia de jogadores “ratos”, pequenos tecnicistas, o Japão assemelha-se a um Barcelona asiático, os jogadores jogam como se treinassem juntos todos os dias num 4-2-3-1 de ponto de partida posicional que se torna altamente desdobrável.

Os dois primeiros médios são dois jogadores de ótima capacidade técnica: o Endo fez toda a carreira no Japão e tem já 32 anos, mas é um jogador acima da média, com ótimo controlo de bola e capacidade para passes longos... é também um especialista em bolas paradas, conspicuamente na  cobrança de cantos, não só com bons cruzamentos tensos como também com cobranças directas à baliza bem medidas. Já o Hasebe, que joga há vários anos na Alemanha, no Wolsburgo, é ainda melhor, faz passes a um toque de todas as formas, feitios e ângulos, e ainda é um jogador móvel, capaz de dar linhas de passe mais à frente (contra a Jordânia vi-o por exemplo a ganhar espaço aproveitando as descidas do Honda para pegar no jogo atrás, acabando a bola por vir chegar ao Hasebe em zonas mais adiantadas) e também na lateral, aproveitando o facto de os extremos japoneses jogarem muito em diagonal.

À frente, o Honda joga como “10” e o Kagawa é o avançado, ou um falso avançado. Na verdade, há momentos do jogo japonês em que o Kagawa e o Honda são médios e os extremos -  o Okazaki que joga no Estugarda, e o Maeda que continua no Japão no Jubilo Iawata – estão na área para receber cruzamentos. O Okazaki em especial apareceu muitas vezes em ótima posição para rematar e, mesmo não tendo marcado, é dos jogadores que melhor entende a movimentação que pode fazer. O Maeda é mais um extremo clássico, cruza e arrisca no um para um quando pode, e é capaz de manter a bola jogavel quando não pode.

Nesta dinâmica extrema de movimentações (onde nunca vimos a equipa perder estabilidade nem levar com contra-ataques), o Japão fez uma primeira parte demolidora: depois de um primeiro golo do Maeda, Honda apareceu duas vezes na área para fazer boas finalizações, e, no final da primeira parte, o Kawada faz um ótimo golo num remate de fora da área. Pelo meio um moço da Jordânia foi expulso, o que obviamente facilitou, mas não nos enganemos: o Japão jogou de forma endiabrada e aos 5 minutos já tinha tido três boas oportunidades para marcar (deslumbrado pelas facilidades, o Okazaki tentou um golo de bibicleta quando podia enquadrar-se com a baliza).



Estádio cheio, público com a equipa, o Japão parece ser um forte candidato a ser uma equipa sensação no mundial (depende do grupo em que calharem etc), e usou a segunda parte para gerir o esforço, permitir algumas boas defesas ao goleiro contrário, permitir que o Honda fizesse o seu primeiro hat-trick a nível internacional depois de um penalti bem simulado pelo Maeda, e terminar em beleza com mais um golo de canto, desta feita com um cruzamento do Uchida para um cabeceamento do central Kurihada, que tinha entrado na primeira parte.

Isto porque já na terça-feira há um encontro com a outra equipa candidata do grupo: a Austrália. E esse jogo grande será uma boa oportunidade para perceber o real valor da equipa australiana. Os australianos são diferentes dos japoneses: menos técnica, mais altura e mais físico; menos estrelas emergentes, mais dependência em jogadores antigos. Na Austrália, as grandes figuras continuam a ser Mark Schwarzer, Lucas Neil, Mark Bresciano e Harry Kewell, e foram marcadamente insuficientes no jogo de hoje com o Omã. Se na primeira parte o Al Habsi (goleirão do Wigan) ainda foi importante para anular os bons momentos australianos com boas defesas, na segunda Omã esteve perto de levar a vitória com o extremo Al-Maashari e o médio Saleh endiabrados, e o outro extremo, o Al-Ajmi, também a desiquilibrar com velocidade (apesar de tudo, o jogador que mais me impressionou em Omã foi um central: Mohammed Albalushi, tem 22 anos e joga nos EAU). O resultado foi um 0-0, mas um público de Omã muito agradado com a exibição da sua equipa.

Se foi um mau dia, ou se a seleção Australiana está numa crise de renovação, muito será percebido na próxima terça, onde jogarão com uma equipa mais rápida e técnica. Caso se verifique outra exibição deste nível, podemos ter Austrália fora do mundial, talvez para um apuramento histórico do Omã ou Iraque.


Já no outro grupo, as linhas diferenciadoras parecem ter sido marcadas de forma clara nestas primeiras jornadas.

Depois de uma vitória sofrida no Uzbequistão, onde os uzbeques se podem queixar de um golo claro não ter sido validado, o Irão de Carlos Queiroz parece em ótima posição para voltar a um mundial, depois da sua última participação em 2006.

No outro jogo da primeira jornada, o Qatar, onde a estrela tem sangue uruguaio – Sebastian Soria joga no Qatar faz agora oito anos! -, venceu no Líbano, graças a um erro defensivo flagrante. Ainda assim, parecia na altura poder ser o principal candidato a ameaçar o lugar do Irão, isto até entrar em cena o grande do grupo, já hoje, na segunda jornada: o Qatar não resistiu e apesar de se ter colocado em vantagem aos 22 minutos, acabou por perder em casa com a Coreia do Sul (4-1). Como no outro jogo o Uzbequistão não foi além de um empate com o Líbano, as portas parecem abertas para Coreia e Irão, que, com apenas um jogo, lideram o grupo, apenas acompanhadas pelo Qatar.

Claro que ainda faltam 6 jogos, mas depois de ter vencido o principal rival na luta pelo segundo lugar fora de casa, Carlos Queiroz parece já a caminho de repetir uma participação num mundial, o que será interessante de seguir para perceber os efeitos para a sua carreira e reputação, já que, apesar das várias oportunidades, Queiroz para além de ter vindo sempre a ficar aquém dos objectivos traçados, também tem estado envolto em conflitos e polémicas de todo o tipo (Portugal e África do Sul são os exemplos mais paradigmáticos), demonstrando uma enorme incapacidade de lidar com as críticas e o insucesso (sendo especialmente clássica a sua declaração de que é preciso estar mais de 10 anos num clube para poder por as coisas a funcionar).

Na próxima terça-feira realiza-se a terceira jornada. Para além do já promovidíssimo Austrália x Japão, que dominará as atenções, eis os outros jogos:

 - No grupo B, Omã joga no Iraque e a equipa que ganhar pode verdadeiramente colocar-se em boa posição para uma aspiração legítima ao apuramento.

 - No Grupo A, a Coreia do Sul tem obrigação de vencer o Líbano sem dificuldades, e o Irão x Qatar pode ajudar a determinar já o futuro de ambas, em caso de vitória do Irão, ou complicar as contas do grupo (com qualquer outro resultado).

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