domingo, 10 de junho de 2012

Euro 2012: Diário de Bordo 3

Diário de Bordo: Dia 3


Ao terceiro dia, o Europeu continua à altura do grande festival desportivo que é. As cortinas do grupo C abriram com mais um jogo grande e intrigante.

A Espanha começou a defesa do título frente a uma Itália imprevisível, enovoeirada por mais um escandalo de combinação de resultados. Sendo sempre imprevisíveis os efeitos que estes acontecimentos podem ter no seio de uma selecção, a derrota por 3-0 com a Rússia em amigável deu a entender que o estado de espírito dos italianos não seria o melhor.

Já a Espanha, começa o Euro como começou o mundial 2010. Sem identidade encontrada, hesitante entre fazer-se uma extensão do Barcelona ou maximizar também as carateristicas dos seus outros jogadores.

O 11 inicial fez tender para a primeira hipótese. Com Llorente e Fernando Torres no banco, Del Bosque fez entrar Arbeloa, Jordi Alba e Fabregas no lugar dos campeões do mundo em 2010 Capdevilla, Puyol e David Villa.

A posição de Fábregas foi aliás a grande surpresa do onze inicial, embora sempre apoiado de forma próxima por David Silva, o catalão fez de facto a posição mais adiantada dos espanhóis. No meio-campo, Alonso e Busquets jogavam em linha, tendo este último a possibilidade de rodar com Xavi a posição. Xavi jogava por defeito no centro, defendendo na mesma linha de Silva e Iniesta, mas em posse descaía muitas vezes para a direita em virtude do David Silva experimentar posições mais centrais. Na esquerda, as subidas de Jordi Alba permitiam que o Iniesta flectisse também para o meio pelo que Espanha atacava essencialmente fazendo um 4-1 ou um 3-2 nos jogadores mais avançados.

O processamento do jogo espanhol é orgânico, se um jogador tem a posse de bola, imediatamente os colegas se movimentam para lhe dar no minimo uma linha de passe, e chegando a bola a Iniesta ou Silva em zonas próximas da baliza, estes tentam, individualmente ou com o apoio de tabelas, rematar à baliza. Não há cruzamentos, chegando à linha a equipa tenta rodar o jogo para o outro lado.

Para contrariar o jogo centralizado dos vermelhos, Prandelli fez a equipa italiana jogar com 3 centrais, fazendo De Rossi uso da sua experiência para ser um líbero moderno, alinhando um pouco atrás de Bonucci e Chiellini. Maggio e o Giacherinni – um estreante na squadra azzurra – completavam uma linha defensiva nas laterais, e com o domínio espanhol perderam um pouco da sua amplitude enquanto alas.

Á frente, Pirlo é um general jogando junto de Thiago Motta e atrás de Marchisio. Mostrando que o BI não joga, aos 33 anos Pirlo continua a construir jogo a partir de trás e mantém uma qualidade de passe invejável, é através dele que muitas vezes Itália fez chegar a bola aos seus avançados. Cassano e Balotelli  tinham como função segurar o esférico para permitir que o resto da equipa subisse no terreno e recomeçasse a construção ofensiva mais próximo da baliza de Casillas. Cassano fez um jogo soberbo, Balotelli teve alguns bons momentos, mas também cometeu faltas desnecessárias e tomou más decisões.

Se na primeira parte, esta configuração resultou num jogo sem grandes momentos de desequilíbrio apesar de todo o retoque técnico, na segunda, o jogo só não ganhou porporções épicas porque ambas as equipas acabaram conscientes que o empate era um bom resultado.

Depois de um início de segundo tempo acutilante dos espanhol (Buffon teve de mostrar que ainda está aí para as curvas: defende com um toque ligeiro um remate do Iniesta que já na área tenta com pouco angulo fazer-la entrar no poste mais distante), Di Natale substitui Balotelli que tinha acabado de falhar displicentemente a melhor oportunidade do jogo, e pouco depois isola-se para concluir com classe uma assistência primorosa de Pirlo.

David Silva não lhe fica atrás e à entrada da área faz também um passe soberbo para a finalização de primeira de Fabregas. Os anos no City fizeram Silva crescer como jogador e é agora um elemento chave da tropa espanhola. Mas a assistência não muda as ideias a Del Bosque: tira-o pouco depois para lançar Jesus Navas.

Com Navas, a Espanha começa a fazer uso do espaço lateral, e o extremo rápido do Sevilha ganha várias vezes a linha... mas continua sem ter ninguém para quem cruzar. Del Bosque mantém Llorente no banco e lança Fernando Torres, outra figura enigmática deste Europeu depois de ter feito uma época fraca no Chelsea, mas ter melhorado substancialmente com a subida de Di Matteo ao comando da equipa.

Em 8 passes tentados, somente 2 são completos, e em 15 minutos finais onde as equipas trocaram oportunidades, Torres teve as mais flagrantes aparecendo por duas vezes isolado. Na primeira, Buffon antecipa o movimento tipico de “El Niño”, que gosta sempre de contornar os guarda-redes, e, sem precisar sequer de ir ao chão, desarma-o com os pés. Na segunda, com a saída de Buffon, tenta fazer fazer-lhe um chapéu, mas a bola vai alta. Tinha um companheiro à direita em ótima posição.

Para as próximas contas de Del Bosque deve entrar Fernando Llorente. O Avançado fartou-se de marcar golos no Bilbao, e parece ser a melhor solução para dar à equipa uma referência na área.

No outro jogo do grupo, Croácia e Irlanda sabiam que qualquer esperança que pudessem ter em passar assentava numa vitória. A Irlanda combinava um 4-4-2 britânico (e sim, eles não são britânicos mas futebolísticamente vai dar ao mesmo) com um posicionamento recuado à medida do Trapattoni. Jogando praticamente todos os jogadores em Inglaterra, McGeady, o médio ala do Spartak de Moscovo, era um dos homens em quem os olhos estavam concentrados, mas acabou por jogar de forma muito discreta.
Concendendo espaço ao meio-campo croata, e dependendo essencialmente da combatividade de Kevin Doyle – constantemente a ganhar lances e faltas ao Corljuka, que jogou a central – e a espaços de algum talento do Robbie Keane, a Irlanda acomulou erros de marcação e foi demasiado frágil para uma Croácia muito ofensiva.



Com 2 avançados altos, Jelavic e Mandzukic, a Croácia foi a equipa que mais envolveu os seus laterais neste europeu e fez valer cruzamentos para a área. Especialmente o Rakitic na direita, chegava-se mais perto do Modric para abrir espaço para o Srna (uma das boas exibições croatas) subir. Perisic – mais um representante do Dortmund em prova – a espaços fazia o mesmo à esquerda. Vukojevic encostava-se aos centrais, e Luka Modric enchia o campo de classe pegando na bola desde trás. Mais maduro que em 2010, pode ser o jogador a comandar a Croácia de novo para altos voos.

Depois de chegar ao 3-1, a Croácia abrandou e passou a jogar de forma mais estável e compacta, e os irlandeses tentaram aproveitar para discutir o resultado, mas apesar dos esforços de Damien Duff e Simon Cox (substituiu o McGeady), o mais perto que estiveram de criar perigo foi quando Robbie Keane foi rasteirado na área. O árbitro, erradamente, não assinalou grande penalidade.

Se Jelavic foi competente e converteu a oportunidade que teve, Mandzukic fez uma exibição brilhante em tudo o que se pode pedir a um ponta-de-lança. Ofereceu linhas de passe, reteve a bola, deslocou-se para a lateral e enfrentou adversários olhos nos olhos – apesar de alto é um jogador rápido . E fez 2 golos de cabeça em dois cabeceamentos difíceis em que também teve colaboração directa de Shay Given. Os Irlandeses contavam com o guardião de 36 anos para ser um dos pilares da equipa mas acabaram por ser traídos pela lentidão do guardião do Aston Villa.

Apesar do coração irlandês, só a Croácia deve ser um verdadeiro incómodo para Espanha e Itália. Mas aí, possivelmente, abdicando de Jelavic para reforçar o meio-campo onde Niko Kranjkar ainda não parece estar em condições de alinhar de início. Uma lesão no joelho fê-lo perder o final de época e nos minutos em que esteve em campo apresentou-se mais lento e receoso do que o Niko que estamos habituados a ver.

Também a Itália deve reformular o seu esquema para os restantes jogos. O Itália x Croácia vai ser o grande jogo da segunda jornada do grupo e não pode deixar de haver alguma curiosidade para ver 2 treinadores italianos defrontarem-se no Itália x Irlanda que fecha o grupo.

Já a Espanha, fica com a missão de encontrar o melhor modelo de jogo e, sobretudo, os melhores jogadores para o interpretar. Navas mostrou que pode ir à linha final como nenhum outro espanhol e, no banco, jogadores como Albiol, Juan Mata ou Llorente têm qualidade para ajudar a equipa, mas é especialmente o último quem pode dar mais soluções à equipa, para que possa fazer variar o seu “tiqui-taca” com cruzamentos para a área e utilização do espaço lateral.

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